O financiamento do transporte público urbano não é mais possível somente com a tarifa cobrada do usuário. É o que diz o presidente da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), Francisco Christovam, 69 anos. Para ele, há a necessidade de subsídios para compor essa cadeia de financiamento.

Em entrevista ao Poder360, Christovam afirma que esses subsídios podem ser feitos principalmente com receita extratarifária, como cobrança em estacionamentos de vias públicas e taxa a aplicativos de transporte individual.

“Esse desequilíbrio entre oferta e demanda, entre remuneração das empresas e custo da prestação do serviço, fez com que surgisse a necessidade de encarar o subsídio de outra maneira. Imaginar que o usuário tem que continuar a arcar sozinho com o custo da prestação do serviço, não é mais possível. No mundo inteiro já pratica o subsídio. Agora estamos diante de uma nova realidade”, disse.

Christovam ressalta que a situação de melhorar a cadeia de financiamento do transporte público urbano ficou ainda mais urgente com a pandemia, quando o setor perdeu cerca de 70% da sua demanda e, paralelamente, ainda teve que lidar com a alta dos combustíveis. Tudo isso levou a um rombo de R$ 30 bilhões em 2 anos que, segundo ele, não serão recuperados.

“Óleo diesel e lubrificantes representam cerca de 30% do custo [das empresas de ônibus]. Nós chegamos a ter 90% de aumento. Nós tivemos praticamente 30% de aumento no custo. Se o passageiro já vinha com dificuldade de arcar com o custo anterior, imagina agora”, disse.

Hoje, as empresas de transporte público urbano já recuperaram cerca de 80% da demanda perdida. Entretanto, Christovam ressalta que os 20% que ainda restam talvez nunca voltem a usar o transporte coletivo devido, dentre outros fatores, à mudança de hábitos que a pandemia trouxe.

Por isso, um dos objetivos que as empresas buscarão seguir tentar atrair o público da nova geração que, como a passada, não tem o carro como um bem de consumo principal.

“Temos grandes desafios: não perder mais demanda, tentar recuperar parte da demanda perdida e buscar uma demanda nova. Buscar uma demanda de uma geração que está chegando agora e não tem paixão pelo automóvel.”

O presidente da NTU também disse que o Brasil não está preparado para a eletrificação da frota de ônibus urbanos. Um dos motivos é que o país não tem uma política nacional sobre o tema. Outro problema seria a falta de um tripé de sustentação para a descarbonização que é: disponibilidade tecnológica, que as tecnologias sejam confiáveis, e a razoabilidade.

“Quando falamos de um ônibus padrão [a diesel], ele custa R$ 800 mil. Um ônibus padrão elétrico custa R$ 2,5 milhões. E ainda não sabemos o tempo de carga e recarga de baterias e o que fazer com elas após o seu período de vida útil”, disse.

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